Rancho Típico de Miro

O Rancho Típico de Miro “Os Barqueiros do Mondego” surgiu a partir de outro Rancho com características mais carnavalescas em termos de trajes e cantigas que existiu no lugar de Miro. Só a partir de Julho de 1986, após algum trabalho de pesquisa e recolhas junto de alguns dos nossos concidadãos, tem vindo a espalhar o seu vasto repertório, através da sua etnografia, danças e cantares, divulgando o que foi o modo de vida e as tradições das gentes pelos 4 cantos de Portugal Continental, em 2010 esteve pela primeira vez na Ilha Terceira, Açores.

Miro geograficamente está inserido em pleno coração da Beira Litoral, na união de freguesias de Friúmes e Paradela da Cortiça, concelho de Penacova, junto aos rios Alva e Mondego, com acesso fácil ao IP3, a escassos 30 Km de Coimbra.

Penacova, terra de invulgar beleza paisagística cercada por serranias onde ainda existem vários moinhos de Vento e atravessada em toda a sua extensão pelos rios Alva e Mondego, é igualmente rica pela sua gastronomia, pelos seus costumes e tradições aqui bem retratados pelo nosso rancho.

Oriundo de uma freguesia onde predominavam os trabalhos agrícolas, a moagem dos cereais, e as lides do rio, os componentes do Rancho vestem dois tipos de trajes bem distintos: – Os trajes de festa para actos solenes e folgança e os de trabalho.

Dos trajes de festa ou domingueiros, destacamos:

  • O par de noivos, os romeiros, os pagadores da décima, o traje cerimónia e ir ver a Deus.


Dos trajes de trabalho destacamos:

  • O Barqueiro do Mondego, (homem que conduzia a barca serrana entre Penacova e os portos de Coimbra e Figueira da Foz).
  • O Calafete (mestre carpinteiro que se dedicava á construção e reparação das barcas serranas).
  • O Carreiro (homem que transportava as mercadorias em carros de bois).
  • O Amassador de estacas (era o homem que nos rios construía as represas de águas, para os agricultores poderem regar as ínsuas junto aos rios, com as chamadas rodas ou doidas).
  • Os agricultores; Os carvoeiros e as tratadoras do linho.

 

Porquê os Barqueiros do Mondego

O Rio Mondego – pode dizer-se que foi até meados do século XX, a única via importante, para o transporte de mercadorias entre o interior e o litoral, motivo pelo qual grande parte das gentes do lugar de Miro, se dedicava às suas lides e actividades de algum modo a ele relacionadas.

O Barqueiro do Mondego – tinha como função conduzir a Barca serrana, entre Penacova e os portos de Coimbra e Figueira da Foz.

A Barca Serrana – O nome Barca serrana, deve-se ao facto de Penacova, se localizar numa zona serrana, e era daqui que as Barcas saiam carregadas de lenha, carqueja e ramalheira, que era vendidas á centena, para os fornos das padarias de Coimbra. Para além destes produtos, eram levados para Coimbra e Figueira da Foz: vinho, milho, azeite, carvão vegetal, telha e cal. Na volta vinha carregada de sal, peixe (fresco ou salgado), arroz e louça.

Paralelamente com o transporte de mercadorias, também transportavam lavadeiras que iam buscar a roupa suja a Coimbra, entregando-a lavada e passada a ferro, lentes e estudantes da Universidade de Coimbra, que iam passar férias às suas terras Natais.

Muitos eram os portos importantes ao longo do Rio Mondego, para carregarem e descarregarem mercadoria dos quais destacamos o Porto da Raiva, como sendo o mais importante, e considerado um dos maiores do país, até meados do séc. XIX. Porto este que, diz a tradição, que a povoação da Raiva, era então situada na Foz do Rio Alva. Aqui chegados, as mercadorias eram descarregadas, e depositadas em locais apropriados, e depois eram levadas em carros de bois “Os Carreiros”, e distribuídas pelos concelhos de Penacova, Arganil, Tábua, Mortágua, Santa Comba Dão e Oliveira do Hospital.

Nos portos de Coimbra, os barqueiros quando procediam ao carregamento ou descarregamento das barcas, tinham que calçar umas alpercatas de pano, se porventura fossem apanhados pelos guarda-rios descalços, era-lhes aplicada uma multa, se andassem com um pé calçado e outro descalço, pagavam metade da multa.